Existe um ditado que ensina que um gesto pode fazer a diferença na vida de uma pessoa. Assim, um simples gesto de carinho ao ouvir o desabafo de um amigo pode significar algo de grande valor para aquele que desabafa, ou ainda, o simples gesto de um sorriso de nossos filhos em determinados dias podem significar toda a alegria que nos faltava. Dessa forma, um olhar, um abraço, um toque, pode fazer a diferença para aquelas pessoas que estão a nossa volta, trazendo para elas paz, consolo, alívio e alegria.
Um olhar! Esse foi o gesto que mudou a vida da pobre viúva de Naim,que caminhava com o seu coração dolorido. Suas lágrimas mostravam seu desespero. Se único filho, aquele cujo o qual havia doado toda a sua vida e cujo o qual a sua vida dependia, estava agora morto.
Que esperança ainda restava a essa mulher? Era viúva, e segundo a sua lei, seu filho era a sua última esperança. Esperança de cuidado, de sobrevivência, de vida. Nada podia fazer essa mulher para mudar a sua situação. Com a morte de seu único filho, restava a ela apenas dois caminhos; o da mendigação e o da prostituição, e ambos levam-na a morte.
Em meio as suas lágrimas, a sua dor, ao seu desespero, a sua falta de esperança surge um "olhar". Esse "olhar", no entanto, era diferente de todos os olhares presentes. Ele não a julgava, não reprimia, mas antes "amava". Quem olhava também era diferente. Conhecia a sua dor, sabia do seu sofrimento, da sua angústia, mas ao contrário do restante do povo que nada podia fazer para lhe ajudar, ele oferecia pelos seus olhos, "esperança": "Vendo-a, o Senhor se compadeceu (teve compaixão) dela" (Lc 7.13)
A ação de Jesus em se compadecer dessa mulher vai além do que esperava aquela mulher. Esperava ela, que assim como o povo, Jesus apenas sentisse pena dela e lhe desejasse os "pesares". Jesus, no entanto, se coloca ao lado da sua dor, compreende o seu sofrimento e oferece a essa mulher todo o consolo que somente ele poderia oferecer: "e lhe disse: Não chores!"(Lc 7.13).
Jesus não se faz indiferente o seu problema, nem mesmo fica de longe apenas "olhando". Antes, os seus "olhos" apontam agora para a sua ação: "Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que conduziam, disse: Jovem, eu te mando: levanta-te" (lc 7.14)
Aqueles olhos que penetraram no coração daquela mulher, que se colocou ao lado dela em seu sofrimento, que enxugou de "seus olhos" as suas lágrimas, estavam agora restaurando nela a "esperança" que ela havia perdido.
A ação de Jesus foi além do que todos os que estavam ali presentes poderiam imaginar, até mesmo para aquela viúva. Jamais imaginariam alguém do povo, de sua religião, tocar um morto. Isso significaria tornar-se impuro, imundo.
Com a sua ação Jesus aponta para algo que havia sido tirado do povo pela sua lei: "O Amor de Deus". Ao acolher a viúva de Naim, tocar o esquife de seu filho, Jesus mostra ao povo que esse amor de Deus vai além dos limites que a lei os prendia. Esse amor vinha ao encontro daquele povo sofrido e abandonado, oferecendo para eles amparo e abrigo e dava a eles a esperança de que em Jesus, Deus estava acolhendo o povo em meio ao seu pecado e abandono.
O amparo presente em Jesu não poderia ser outro a não ser vida. Vida que ele restabelece ao filho da viúva: "Eu, te mando, levanta-te". Vida que Jesus estava oferecendo a todos presentes a sua volta. Vida que Jesus oferece a cada um de nós diariamente.
Os "olhos" de amor que Jesus olhou para a viúva de Naim, continuam a olhar para cada um de nós ainda hoje. Jesus continua olhando para nós e nos amando, se compadecendo de nós. E os seus olhos vão para além do simples ato e olhar, mas apontam para a ação de Jesus: a cruz. E é na cruz, que nosso Salvador oferece para nós a certeza de que nossos olhos também estão sendo enxugados. Que nós não estamos sozinhos quando sofremos, ou nos sentimos desamparados ou sem esperança, mas antes, que Jesus se coloca ao nosso lado na nossa dor, no nosso sofrimento, no nosso abandono e oferece para nós o consolo e a esperança que a viúva de Naim pode sentir: "Não chores!".
Com essas palavras, que nos buscam no nosso mais íntimo sofrimento, que rompe a nossa zona de proteção e conforto, aponta os nossos olhos para além da cruz, onde nossa esperança e amparo podem repousar tranqüilos: para a ressurreição.
Quando olhamos para a ressurreição que Jesus oferece aquela mulher ao ressuscitar o seu filho, vemos, Deus agindo em amor e favor de seu povo. Deus vem ao encontro do seu povo na pessoa de Jesus para salvá-los, libertá-los e dar-lhes a oportunidade de um recomeço.
Um recomeço já aqui nesse mundo, primeiramente na certeza de que a culpa do pecado, nem mesmo a sua impureza podem nos acusar diante de Deus, pois, o próprio Deus removeu de nós essa culpa. Em segundo lugar, na certeza de que Deus não se faz alheio ao nosso sofrimento, mas antes, por meio de Jesus, ele se coloca ao nosso lado e caminha conosco, e por último, apontando nossos olhos, nosso corpo, nossa vida para o seu reino, onde nossos olhos serão enxugados completamente.
Um geto pode mudar a vida de uma pessoa. Um "olhar de amor" mudou a vida daquela viúva, trazendo para ela consolo, esperança e a certeza da presença de Deus em meio a sua dor. Esses olhos que amaram essa mulher fez o povo exclamar: "Deus visitou o seu povo". Os olhos de Jesus continuam nos olhando com amor, nos amparando e consolando em meio ao nosso sofrimento dando-nos a esperança e a certeza do amor do Pai por todos nós.
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