Está em votação no Senado Federal uma lei, conhecida com “Lei da Ficha Limpa”, que prevê que todo o candidato que deseje se candidatar para concorrer às eleições deve ter a “sua ficha” limpa diante da justiça. Assim, para todo aquele que deseja entrar no palácio do Itamarati para ser deputado, senador, e principalmente presidente da república não pode ter nenhuma “pendência”, seja a menor que for com a justiça.
Essa lei visa muito mais do que apenas buscar candidatos sem problemas judiciais, antes, ela visa à busca de pessoas íntegras, justas e que desejem governar para o bem do povo, negando assim o seu próprio interesse.
Olhando para o que essa lei representa e o que ela busca poderíamos então perguntar: Quem seria apto para então ser candidato? E a resposta que encontraríamos no final seria: ninguém.
No evangelho de hoje encontramos uma pergunta semelhante a essa que fizemos à pouco: Quem tem a ficha limpa diante de Deus? Em volta dessa pergunta estão dois personagens: Simão o Fariseu e uma mulher pecadora.
Simão era um líder religioso, conhecido por guardar os dez mandamentos e observar todos os rituais e preceitos que a sua religião ensinavam. Diante da sociedade era tido como um homem justo e íntegro, do qual, nada podia se falar.
Esse homem “íntegro” e “justo” fez em sua casa um jantar onde teve como convidado especial a Jesus. Era comum nesses jantares serem discutidos alguns assuntos. E sem dúvida, Simão, estava curioso, tinha muitas perguntas para fazer para Jesus. Seu desejo é poder afirmar a sua justiça e integridade para o mestre presente a mesa, mostrando seu conhecimento dos dez mandamentos.
Na mesma cidade de Simão, morava uma mulher. Ela não era uma mulher comum como tantas as outras que moravam naquela cidade. Mas ela carregava uma marca; era pecadora. Carregava consigo o desprezo e a vergonha que essa marca havia lhe trazido. Ela experimentou na sua vida o sabor amargo que o pecado trouxe à cada dia da sua vida. Estava sem dúvida com sua consciência pesada, destruída, de maneira que já não mais ousava se colocar diante de Deus.
Essa mulher havia ouvido falar de um homem, que não rejeitava pessoas como ela, mas antes, acolhia, amava e mais ainda, oferecia paz para as consciências que como a dela estava atormentada pelo pecado. Tinha desejo de poder conhecê-lo, de tocar-lhe de sentir essa paz que somente ele poderia oferecer para a sua dor. E agora, esse homem estava em sua cidade, perto dela. Talvez não teria outra oportunidade de vê-lo.
Sem pensar muito, ela vai ao encontro de Jesus. Entra na casa de Simão, joga-se aos pés de Jesus, sem nada falar, sem nada pedir, apenas chorando, e com suas lágrimas lavando os pés do seu Salvador.
Diante do olhar do povo, duas realidades presentes; de um lado o “justo” e “íntegro” Simão, conhecedor e cumpridor da Lei, do outro, ao pés de Jesus, uma mulher pecadora e “injusta”.
Duas realidades opostas e um julgamento : “Ao ver isso, o fariseu (Simão) disse consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora” (Lc 7.39).
Simão havia observado toda aquela cena, e não conseguia disfarçar a sua decepção. O próprio fato de Jesus estar sendo tocado por alguém de má fama, pecador, o arrepiava, por isso, em seu coração, passou o veredito de que Jesus não podia ser profeta. Toda aquela cena, as lágrimas, o perfume, a mulher, estavam incompatíveis com a sua justiça e o que se vê aos olhos de Simão é o desprezo e a rejeição.
Jesus percebe a inquietação no coração de Simão, sabe o que se passa em seu pensamento, por isso vai agora ao seu encontro para poder confrontá-lo. Precisava colocar diante de Simão uma questão para que ele pudesse compreender a “Justiça de Deus”. E a questão que Jesus levanta para Simão é essa: “Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinqüenta denários. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes ambos. Qual deles, portanto, o amará mais?” (Lc 7.42). Com essa parábola Jesus aponta para duas realidades existentes na vida humana, as quais os olhos de Simão não mais conseguiam enxergar: 1. Diante de Deus todos são devedores, não havendo nada que o homem pode fazer para mudar essa situação; 2. Deus mesmos é quem “limpa a nossa ficha” através do perdão imerecido que ele nos oferece por meio de Jesus.
Diante dessas duas realidades, as quais Jesus coloca, Simão é confrontado coma pergunta: “Quem de fato é justo para estar diante de Deus? Ou ainda: Quem tem a ficha limpa diante de Deus?”.
Certamente esse questionamento de Jesus calou fundo diante desse homem. Não estava seu coração preparado para ser confrontado com a graça de Deus.
Diante dessa graça, a qual Jesus apresenta pela sua história, aquele quem mais devia, mais se alegrava com o perdão de sua divida
Aquela mulher que estava jogada aos pés de Jesus, não se sabia merecedora de estar na presença do Salvador. Ela já havia sido convencida pelo sofrimento que o pecado havia trazido sobre ela que não tinha nada para oferecer a Jesus, nenhuma justiça própria que pudesse agradar ao Salvador, a não ser a sua vida quebrada, devastada e dolorida de pecadora. Ela tinha somente a sua “ficha suja” para oferecer a Jesus. E agora, ela busca em Jesus, aos seus pés, o perdão que pode “limpar a sua ficha” diante de Deus, e trazer para ela uma consciência tranqüila e uma vida de paz com Deus.
Esse é o caminho que Jesus quer guiar o fariseu. O caminho do reconhecimento de que também ele, mesmo sendo um observador da Lei, ainda sim tinha sua “ficha suja”. Jesus quer guiar ao Fariseu para o caminho da justiça de Deus. Esse caminho passa pelo perdão que Jesus estava oferecendo para aquela mulher, e o qual ele quer oferecer também a Simão.
Para que esse perdão, que “limpa a ficha” diante de Deus e traz o povo para um novo relacionamento de amor e cuidado pudesse atingir o coração de Simão, ele primeiro precisava reconhecer-se necessitado desse perdão. Precisa Simão também reconhecer agora que a sua ficha estava suja, para que Jesus pudesse oferecer uma nova “ficha”, limpa, com o perdão que Deus oferecia.
Esse é o caminho que Jesus guia a cada um de nós também. Pela lei, somos convencidos que a nossa ficha está suja diante de Deus. Tão suja como as dos candidatos ao governo.
Quando analisamos a nossa vida, vemos as marcas dessa “ficha suja”: Infidelidade, violência, ofensa a Deus e ao nosso próximo, mentiras, desonestidade, etc. Nos deparamos com as palavras do apóstolo Paulo: “Não há justo, nenhum sequer”, ou ainda “todos pecaram e carecem da glória de Deus.”(Rm 3.23).
Diante desse quadro, muitas veze tentamos esconder de Deus e de nós mesmos essas nossas falhas, com medo de que Deus não se agrade com o nosso pecado. Assim, colocamos a “ficha suja” num gaveta escondida em nossos corações, onde ninguém tem acesso, nem mesmo Deus.
Achamos que com isso conseguimos resolver o nosso problema. Mas o resultado é diverso daquele que esperamos. O rei Davi bem sabe qual é o resultado de tentar esconder seu pecado de Deus e de si mesmo: “Enquanto não confessei o meu pecado, eu me cansava, chorando o dia inteiro” (Sl 32.3).
O convite de Jesus a Simão, e a nós também é que confessemos os nossos pecados a Deus. Que possamos abrir “as gavetas” escondidas em nossos corações e tirar de lá toda a nossa “ficha suja” e colocá-las agora diante dele, assim como fez aquela mulher, e agora, ele pode dizer a nós também, como disse a ela: “Perdoados estão os teus pecados...vai-te em paz” (Lc 7. 48, 50).
Qual o resultado desse perdão? Um novo relacionamento com Deus, baseado na “Ficha limpa” pelo perdão que Jesus nos ofereceu. Perdão conseguido na cruz, com o seu sangue. Nesse novo relacionamento, o amor é maior marca. O amor que brota do perdão recebido e da alegria de estar novamente diante de Deus, com a nossa “ficha limpa” pelo Salvador Jesus.
Elton Americo - Estagiário Sapiranga - RS
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