terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Os três pilares do ensino de Jesus: Fundamento da nossa Salvação - Mc 1.21-28
“Depois, entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, foi ele ensinar na sinagoga. Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade...” (Mc 1.21-22)
Imaginemos a seguinte situação: Um pastor está no púlpito, pronto para pregar, para anunciar a palavra de Deus. Seus ouvintes esperam que ele fale com clareza, com conhecimento, com autoridade. Como pastor, as pessoas não esperam menos dele, pois foi para isso que ele estudou e se preparou. Agora, imaginemos que na hora de falar ele se perca em seus escritos, ou fique nervoso e comece a gaguejar. O que seus ouvintes pensarão? Muitos pensarão que ele não se preparou, ou que não sebe sobre o que esta falando ou pior ainda, que não acredita naquilo que pretende ensinar. E a conclusão que chegarão é que esse pastor não tem autoridade sobre aquilo que pretende anunciar e logo não o darão mais ouvidos. Alguns até diriam: Esse pode ir embora, pois não sabe o que está falando.
Esse é o sentimento que o povo de Israel sentia com relação ao ensino de seus lideres religiosos: Não tinham autoridade naquilo que ensinavam ao povo. Em vez de ensinar ao povo sobre o amor, o perdão e o acolhimento de Deus, suas mensagens eram de condenação, separação e exclusão. Aos fracos, aos enfermos, aos necessitados e menos favorecidos lhes eram negado os cuidados de Deus.
Com esse ensino, a mensagem de Deus constituía-se para o povo em uma grande contradição: Por um lado ouviam nos textos dos profetas a respeito da promessa, dos cuidados, da salvação que o Messias iria trazer ao povo; Por outro lado, a dura realidade que viviam por parte daqueles que tinham a responsabilidade de cuidar, guiar e ensinar o povo lhes colocavam fora da vida no reino de Deus.
Essa é a realidade que Jesus encontra na sinagoga de Cafarnaum. Um povo sedento, desesperado, necessitado da Boa Notícia que traz consolo, alento, proteção e amparo para as suas vidas. Por isso, ao entrar na Sinagoga, Jesus foi “LOGO” ensinar. “Logo” denomina “urgência”, “sem demora”, “sem perder tempo”. Há no coração daquele povo, e no nosso também, uma “urgência” pela mensagem de socorro que Deus tem para nos anunciar.
Diante da realidade que nós vivemos hoje, onde há muitas mensagens, muita gente querendo falar, nos encontramos como o povo de Israel: Confusos e Perdidos. Como saber qual é o verdadeiro ensino que vem do coração de Deus? Onde encontrar consolo, esperança e ajuda diante dos sofrimentos e das dores que precisamos carregar?
A mensagem que Jesus anuncia ao povo, e a nós também, por meio do seu “ensino” está fundamentada sobre três pilares sólidos: Graça, Palavra e Fé. São esses três pilares que diferenciam o ensino de Jesus (verdadeiro ensino) do ensino dos escribas (falso ensino). É na graça de Deus, na sua vontade revelada em sua Palavra e na fé que brota do amor, que o ensino de Jesus encontra a sua autoridade, e deixa admirados, maravilhados todos aqueles que o ouvem.
1º O fundamento da graça – o intimo relacionamento com o Pai.
O primeiro pilar sob o qual o ensino de Jesus está “FUNDAMENTADO” é o pilar da “graça”. A palavra “graça” é sempre uma palavra que nos cativa em seus significados. Ela sempre nos convida para olharmos para uma ação que ocorre fora de nós. Uma ação que surge, tem seu inicio sempre no coração de Deus. Jesus mesmo é a graça visível, palpável que acolhe o pecador, cura suas feridas e anuncia-lhes o perdão e o amor de Deus. E, Jesus, no evangelho que acabamos de ler, amplia ainda mais para nós o significado dessa palavra no seu modo de ensinar: “Estar sob a graça de Deus é ter um íntimo relacionamento com o Pai.” É esse intimo relacionamento com o Pai, que faz com que o ensino de Jesus seja diferente, pois ele fala ao coração. Suas palavras são dirigidas a corações feridos, mal ocupados, mal ensinados, mal esclarecidos. Às pessoas cujas quais viram o seu relacionamento com Deus serem interrompidos por causa de suas fragilidades, das suas fraquezas, das suas enfermidades, por causa do seu pecado.
É a esses corações quebrantados, vazios da graça, do intimo relacionamento com Deus, que Jesus ensina a respeito do “reino de Deus”. Um reino que acolhe e cuida, não separa e exclui. E, é em Jesus, que o reino de Deus se faz presente no meio do povo, de maneira que quando o povo olha para Jesus, para a sua maneira de agir, falar, ensinar, eles podem sentir os cuidados que esse reino oferece. O povo sabe que na pessoa de Jesus Deus visitou o mundo com a sua graça.
O apóstolo Paulo, sabe bem o que é ser alcançado pela graça de Deus. Ele mesmo experimentou em sua vida essa graça. Por isso, Paulo compartilha com todos a sua volta a realidade da vida sob a “graça de Deus”: “Mas Deus sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos e pecados, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvo” (Ef 2.4). E o apóstolo João completa: “Todo aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus” (1 Jo 4.15).
Essa é a mensagem que fez e faz o ensino de Jesus ser algo maravilhoso de se ouvir: “Deus visitou o mundo com sua graça”, “ele nos visitou com sua graça”. É por meio dessa graça, que nos alcança no nosso mais intimo pecado, que estende a sua mão quando estamos diante dos sofrimentos, dores, lagrimas e lutas que precisamos enfrentar diariamente e nos acolhe para dentro do reino de amor de Deus que temos “FUNDAMENTADO” o nosso relacionamento com Deus. E essa graça está presente na pessoa de nosso Salvador Jesus. Em Jesus, temos o consolo de que Deus não nos rejeita por causa do nosso pecado, mas antes nos convida para um novo relacionamento com ele. Um relacionamento baseado em sua graça: “pela graça sois salvo” (Ef. 2.4).
2º O Fundamento da Escritura – a Fonte do ensino.
O segundo pilar sob o qual o ensino de Jesus está fundamento é a Escritura, a palavra de Deus. Moisés traz para nós essa realidade do somente a escritura, na profecia anunciada no texto de Dt 18.18 – “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar”. O Profeta de Deus, fala a palavra de Deus. Parece obvio isso. No entanto, em um mundo como vivemos hoje, onde parece haver várias verdades, vários caminhos, vários mensagens, lembrar que Deus se revela a nós por meio da Bíblia (sua Palavra) se faz necessário.
O professor Vilson Scholz, em sua mensagem aos formandos de teologia do Seminário Concórdia do último ano, fez uma admoestação importante aos formandos: Ao falar dessa tendência de contemporizar a mensagem bíblica diz: “entre ser contemporâneos ou bíblicos, sejam bíblicos. Sejamos bíblicos.”
“Ser bíblico” é anunciar a palavra de Deus é anunciar a vontade de Deus. É anunciar Lei e Evangelho. E essa mensagem nem sempre é a mensagem que queremos ouvir, mas sim a mensagem, o ensino que precisamos ouvir. Esse é o ensino que encontramos nas Palavras e na vida de Jesus. E é por meio desse ensino que Jesus convida o povo a colocarem a sua vida diante do “espelho” da Palavra de Deus e verem a “imagem turva” de suas vidas quebradas pelo pecado, e ao mesmo tempo, guiá-los para uma nova imagem, redesenhada pelas mãos de Deus. Uma imagem refeita a partir do perdão e da graça.
Esse convite de Jesus continua sendo feito a nós hoje também. Sempre que ouvimos a Palavra de Deus, somos colocados diante desse “espelho”. E o que vemos? As “imagens turvas” de uma vida quebrada pelas conseqüências do pecado. Essa não é uma imagem que nos agrada, nem uma imagem a qual queremos ver, pois, nos revela a nossa verdadeira condição a qual tentamos esconder de nós mesmos: “não há justo, nenhum sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus, todos se extraviaram... não há quem faça o bem, nenhum sequer.” (Rm 3.10-12). “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).
Mas, ao mesmo tempo em que a Bíblia revela a nós o nossa verdadeira “imagem”, sem maquiagem, sem máscaras, ela aponta para a ação de Deus em nosso favor. Ela nos guia até a “graça” de Deus. E é nessa graça, que temos a nossa imagem refeita: Somos lavados em nosso Batismo de toda a nossa imundícia, somos alimentados e fortalecidos na Santa Ceia em nossa fragilidade. Deus, por meio de sua Palavra de dos Sacramentos toca o nosso corpo todo, nossa vida toda com o seu amor. Ouvimos e sentimos nesse toque de Deus a doce mensagem do Evangelho: “Os teus pecados estão perdoados. Vinde benditos de meu Pai, entrem no reino que está preparado para vocês desde a criação do mundo”.
3º O fundamento da fé – o amor de Jesus pelas pessoas.
O terceiro pilar sob o qual o ensino de Jesus está fundamentado é o pilar da fé. A fé que revela o amor de Jesus pelas pessoas. Um amor que fez com Jesus confrontasse o mal: “Não tardou que aparecesse na sinagoga um homem possesso de um espírito mau, o qual bradou: que temos nós contigo, Jesus Nazareno?...Mas Jesus o repreendeu, dizendo: cala-te e sai desse homem...” (Mc 1.23-25).
Um amor que traz para cada um de nós o perdão, convidando-nos para uma nova vida: “vinde a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
Essa é a realidade do somente pela fé: É ter a certeza de que em Jesus nós encontramos proteção, perdão e amor. A fé nos guia até os cuidados e a vida que Jesus oferece a todos aqueles que ouvem a voz do Bom Pastor e se deixam em suas fragilidades e fraquezas serem guiados, alimentados e protegidos. É nesse sentido que entendemos o texto bíblico lema da igreja para esse ano: “O Senhor é a minha rocha poderosa e o meu abrigo”.
O amor de Jesus, amor que nos acolhe, nos protege e nos perdoa, está manifestado de maneira clara na cruz. É na cruz, que de braços aberto, Jesus recebe a cada um de nós. E é ao pé da cruz que podemos encontrar “refúgio” para as nossas dores e sofrimento, perdão para os nossos pecados e amor. O amor que nos une com Deus e nos acolhe para dentro do seu reino.
Esse foi o sentimento que o povo de Israel sentiu quando ouviu o ensino de Jesus. Sentimentos que não encontravam no ensino de seus lideres religiosos. Na pessoa de Jesus e em seu ensino eles se sentiam acolhidos, perdoados e protegidos. Diferente de tudo que já tinham ouvido, esse novo ensino tinha a sua autoridade firmada na ação de Deus em acolher em sua graça, perdoar e amar a todos os pecadores que se deixam cuidar por esse ensino. E essa mensagem enche os olhos, o coração, a alma, a mente deixando todos maravilhados.
Conclusão: Somente pela graça, somente pelas escrituras, somente pela fé. Esse é o alicerce do ensino de Jesus. E esse ensino aponta a vida de cada pessoa, cada um de nós para Jesus, onde Deus fala a nós e onde Deus visita o seu povo. Somente pela graça, somente pelas escrituras, somente pela fé, esse tem sido o “FUNDAMENTO” da igreja cristã, que a manteve viva e eficaz até os nossos dias. E é na graça de Deus, em sua santa Palavra e na fé verdadeira no Salvador Jesus que a nossa fé esta “FUNDAMENTADA”, e podemos agora “ensinar, pregar, anunciar” a boa-notícia de Deus com “autoridade”. Não a nossa autoridade, baseada em nossas forças, sabedoria ou condições, mas na “autoridade” que vem do alto e que abre os céus para nós. Amém.
Pastor Elton Americo - Coxim-MS
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